Cenas dispersas – Noite

Noite

Era uma noite como outra qualquer, eu como sempre no computador falando com algumas pessoas no MSN e sintonizada em uma radio on-line. Levantei-me para ir até a cozinha toar água. Andei pelo corredor escuro que permaneceu assim  pela minha simples preguiça de  acender a luz.

Cheguei à cozinha, acendi a luz, e me servi de um copo d’água o tomei fitando as lindas rosas que meu pai dera a minha mãe no aniversario de casamentos deles. Elas já começaram a murchar, mas ainda continuavam belas.

Lavei o copo, apaguei a luz e voltei ao corredor iluminado apenas pela luz do meu quarto. Concentrava-me no som da TV que era a única coisa que fazia barulho na casa, sem contar os roncos abafados do meu irmão.

Continuei andando quando fui subitamente jogada contra uma entrada do corredor, era a entrada que levava ao quarto de meus pais.

Senti algo me segurando, tentei gritar, mas minha boca estava tampada, tentei acertá-lo, mas meus braços também estavam presos, quando finalmente tive a idéia de chutá-lo escutei sua voz acariciar meus ouvidos.

-Calma, me escuta sou eu – Era aquela voz doce e rouca que eu aprendera a conhecer.

Espantei-me em reconhecer sua voz e comecei a tentar me virar lentamente, ele não me impediu.

O encarei, mesmo com a pouca luz que provinha de meu quarto eu pude ver aqueles olhos cinza que hoje pareciam tempestuosos levemente manchados pelo preto, seu rosto estava mais pálido que de costume e seus cabelos negos despenteados.

Sorri levemente em reconhecê-lo e vi os lábios dele se contraírem levemente em algo que me pareceu um sorriso também.

-O que… Como…- As palavras começavam a sair mas não se ligavam para formar perguntas. Ele tornou a colocar a mão em minha boca, mas dessa vez apenas um dedo para que eu o escutasse.

-Olha, eu adoraria poder lhe responder tudo isso, mas não posso, me desculpe eu não queria que fosse assim, mas você é a única pessoa que eu não podia ir embora sem dizer adeus.

-O que? Como assim ir embora? Para onde você está indo?- Minha voz subiu alguns décimos, e eu pude ouvir o ronco do meu irmão dar uma falhada, mas depois voltar ao seu normal. Só agora eu começava a reparar nas vestes dele, ele calçava sapatos fechados e estava vestindo todo de preto, apesar da noite fria ele usava uma camiseta fina sem mangas, não parecia que ia a algum lugar.

Ele balançou a cabeça com um olhar triste. –Olha Clara,eu tenho que ir, só vim para dizer que nunca vou te esquecer e que espero um dia tornar a vê-la, mas não me espere, viva sua vida.

Eu sentia meu coração parar de bater, como já sentira varias vezes antes, aquela sensação de perda, sentia que  as lagrimas iriam  jorrar de meus olhos a qualquer instante, ele era o mais próximo de um companheiro que eu tive  em anos, e agora se ia, assim, tão repentinamente.

-Clara, eu não tenho tempo não posso te colocar em perigo também.

-Mas…

-Não posso explicar, só…- Ele foi em direção aos meus lábios, as quando fechei os olhos senti seus lábios acariciarem minha testa.

-Adeus.- Eu escutei seu sussurro em meu ouvido mas quando abri meus olhos estava sozinha na entrada, mirando o corredor.

Ele sumiu sem deixar vestígios de que um dia estivera ali. Voltei ao corredor e fui de volta até meu quarto e tornei a me sentar a frente do computador, eu estava com o rosto molhado pelas lagrimas, mas não sentia nada dor ou se quer a sensação de segundos atrás. Olhei para o relógio, não se passaram nem 5 minutos.

Comecei a achar que a visita de Rodney fosse apenas fruto da minha imaginação. Mas quando na manhã seguinte perguntei por ele descobri que muito mais do que   sua visita era imaginação minha.
-Quem é Rodney, Clara?

~.~.~.~

By: Lara Polix – Cenas dispersas.

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